quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

O ESPÍRITO

Natália Correia (1923-1993)

O ESPÍRITO

Nada a fazer amor, eu sou do bando
Impermanente das aves friorentas;
E nos galhos dos anos desbotando
Já as folhas me ofuscam macilentas;

E vou com as andorinhas. Até quando?
A vida breve não perguntes: cruentas
Rugas me humilham. Não mais em estilo brando
Ave estroina serei em mãos sedentas.

Pensa-me eterna que o eterno gera
Quem na amada o conjura. Além, mais alto,
Em ileso beiral, aí espera:

Andorinha indemne ao sobressalto
Do tempo, núncia de perene primavera.
Confia. Eu sou romântica. Não falto.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

AMOR DE JULIETA-MINHA FILHINHA ADORADA

Julieta sentou-se por fim naquela pedra junto ao rio.
As flores ondularam, e os ventos amainaram os seus cabelos, como as flores ondulando.
Mirou-se por fim naquela água cristalina, onde tantas vezes pedira os reflexos dos rostos queridos.
Queria matar saudades apenas do mundo que a teve.
Serena, mirou-se no rio e soube do segredo que sempre a levava até ali.
Sem nunca perguntar.
Sem nunca pedir.
Sem nunca deixar de amar.
Sem nunca deixar de sorrir.
Julieta abandonada de tudo, vestiu-se de branco, a côr da paz e dos anjos.
Sabia que na terra outros anjos deixara....
Preciosos diamantes,  como ela errantes, meros passageiros de um rio e de terra e de céu ... que lhe devolvia.
Toda a ternura que tinha no peito.
Todo o amor e respeito numa saudade que compartiu..
Levitou no ar.
E viu.
Nas águas agora ondulantes e serenas do rio... o rosto de sua mãe, que também sorriu.
Sabia da comunhão.
Do rio, devolvida numa só razão.
Das mágo
as, nas águas.
Das fontes,
De todas as suas dádivas e amor aos montes.
Dos lábios da sua mãe, pomba alva como ela..
....e o rio correndo, lavava a alma... enternecendo todos os seus amores em águarela.
Aberta.
Compreendida e desperta.
Hoje sentada na pedra sabia.
Que a  guarida eterna para sempre delegou o que na terra deixou.
Seria a única forma de ser para sempre feliz.
Delegando em cada coração aprendiz, o seu amor.
Julieta plena de amor.
Plena de paz.
Cheia de orgulho, soube que foi capaz.
De dar.
De na terra deixar outro rio.
Outra alma.
Outra vida.
Outra guarida.
Nos corações que conhecia e confiava.
O seu legado.
O seu gesto mais amado abriu,
... e por assim ser deixou, que esse amor se partilhasse na concha da sua mão ... na água o  seu fio.
E nem uma dúvida ficou.
Do seu saber de menina.
Levantou-se e voou.
Livre por bem e por quem,
Amou e por isso cedeu a sua doce e amada MÃE.
.....Julieta abandonou o rio....não esquecendo outos nomes nos seus trilhos.... quando o peito é um rio...tudo corre sem parar, tudo se parte e reparte e repartindo saiu... brincado como os seus filhos.
Raquel Calvete ( sem palavras)
OBRIGADA RAQUEL,por este lindo poema..
Ser mulher...
É viver mil vezes em apenas uma vida.
É lutar por causas perdidas e sempre sair vencedora.
É estar antes do ontem e depois do amanhã.
É desconhecer a palavra recompensa apesar dos seus atos.

Ser mulher...
É caminhar na dúvida cheia de certezas.
É correr atrás das nuvens num dia de sol.
É alcançar o sol num dia de chuva.

Ser mulher...
É chorar de alegria e muitas vezes sorrir com tristeza.
É acreditar quando ninguém mais acredita.
É cancelar sonhos em prol de terceiros.
É esperar quando ninguém mais espera.

Ser mulher...
É identificar um sorriso triste e uma lágrima falsa.
É ser enganada, e sempre dar mais uma chance.
É cair no fundo do poço, e emergir sem ajuda.

Ser mulher...
É estar em mil lugares de uma só vez.
É fazer mil papeis ao mesmo tempo.
É ser forte e fingir que é frágil...
Pra ter um carinho.

Ser mulher...
É se perder em palavras e depois perceber que se encontrou nelas.
É distribuir emoções que nem sempre são captadas.

Ser mulher...
É comprar, emprestar, alugar, vender sentimentos, mas jamais dever.
É construir castelos na areia, ve-los desmoronados pelas águas.
E ainda assim amá-los.

Ser mulher...
É saber dar o perdão... É tentar recuperar o irrecuperável.
É entender o que ninguém mais conseguiu desvendar.

Ser mulher...
É estender a mão a quem ainda não pediu.
É doar o que ainda não foi solicitado.

Ser mulher...
É não ter vergonha de chorar por amor.
É saber a hora certa do fim.
É esperar sempre por um recomeço.

Ser mulher...
É ter a arrogância de viver apesar dos dissabores,
das desilusões, das traições e das decepções.

Ser mulher...
É ser mãe dos seus filhos... Dos filhos de outros.
É amá-los igualmente.

Ser mulher...
É ter confiança no amanhã e aceitação pelo ontem.
É desbravar caminhos difíceis em instantes inoportunos.
E fincar a bandeira da conquista.

Ser mulher...
É entender as fases da lua por ter suas próprias fases.
É ser "nova" quando o coração está à espera do amor.
Ser "crescente" quando o coração está se enchendo de amor.
Ser "cheia" quando ele já está transbordando de tanto amor.
E ser "minguante" quando esse amor vai embora.

Ser mulher...
É hospedar dentro de si o sentimento do perdão.
É voltar no tempo todos os dias e viver por poucos instantes.
Coisas que nunca ficarão esquecidas.

Ser mulher...
É cicatrizar feridas de outros e inúmeras vezes deixar.
As suas próprias feridas sangrando.

Ser mulher...
É ser princesa aos 20... Rainha aos 30...
Imperatriz aos 40 e... "Especial" a vida toda.

Ser mulher...
É conseguir encontrar uma flor no deserto.
Água na seca... Labaredas no mar.

Ser mulher...
É chorar calada as dores do mundo e
Em apenas um segundo, já estar sorrindo.
Ser mulher...
É subir degraus e se os tiver que descer não precisar de ajuda.
É tropeçar, cair e voltar a andar.

Ser mulher...
É saber ser super-homem quando o sol nasce.
E virar cinderela quando a noite chega.

Ser mulher...
É ter sido escolhida por Deus para colocar no mundo os homens.

Ser mulher...
É acima de tudo um estado de espírito.
É uma dádiva... É ter dentro de si um tesouro escondido
E ainda assim dividí-lo com o mundo!


Silvana Duboc

INSÓNIA

Nas noites de insónia
converso contigo.
Questionas a eito
com esse teu jeito.
e eu, como a um amigo,
confio-te ainda
os meus pensamentos,
partilho momentos.
Analisas meus medos,
escutas segredos,
mas não vês o rio
que corre pelas faces,
nem sentes o frio
da falta do abraço.
Este ténue laço
de que tenho uma ponta,
solitária e tonta,
flutua a outra no espaço
sem tua mão, sem teu calor.
Porque nos perdemos, amor?

Helena Guimarães



segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

António Ramos Rosa

Amo o teu túmido candor de astro

a tua pura integridade delicada
a tua permanente adolescência de segredo
a tua fragilidade acesa sempre altiva
Por ti eu sou a leve segurança de um peito
que pulsa e canta a sua chama
que se levanta e inclina ao teu hálito de pássaro
ou à chuva das tuas pétalas de prata
Se guardo algum tesouro não o prendo
porque quero oferecer-te a paz de um sonho aberto
que dure e flua nas tuas veias lentas
e seja um perfume ou um beijo um suspiro solar
Ofereço-te esta frágil flor esta pedra de chuva
para que sintas a verde frescura
de um pomar de brancas cortesias
porque é por ti que vivo é por ti que nasço
porque amo o ouro vivo do teu rosto

sábado, 7 de janeiro de 2012


Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz com uma outra pessoa, você precisa, em primeiro lugar, não precisar dela.

Percebe também que aquele alguém que você ama (ou acha que ama) e que não quer nada com você, definitivamente não é o "alguém" da sua vida.

Você aprende a gostar de você, a cuidar de você e, principalmente, a gostar de quem também gosta de você.

O segredo é não correr atrás das borboletas... é cuidar do jardim para que elas venham até você.

No final das contas, você vai achar não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você!

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Um rio de águas doces,
Ou o mar em tempestade,
Um canteiro colorido de flores,
Que nos embriaga com seus odores.
Um cais com gaivotas esvoaçantes,
Numa dança estonteante.
Talvez um beijo apenas,
No crepúsculo da noite calma,
Que nos acaricia a alma.
Uma criança com andar hesitante,
E um sorriso cativante.
Um sulco na terra fertil,
Esperando pela semente
Um meigo olhar que se sente, num repente.
Uma mãe com o filho no regaço,
A olhar o avião no espaço.
O bébé a gatinhar
e a mãe, vaidosa a olhar.
Pode ser apenas o vento
Que nos fustiga o rosto,
Ou uma réstea do sol posto.
O pássaro do vizinho,
Que esvoaça na gaiola
Os peixinhos vermelhos num lago do jardim,
E tu, a olhares para mim.
O rir e o chorar...
Ou uma cálida noite de luar.
O fulgor do amanhecer,
Com a leveza de ser.
As gotas de chuva na calçada,
E o cheiro da terra após a chuvada.
O musico da rua que teima em tocar,
P´ra gente que passa sem p´ra ele olhar.
A noiva de branco que sobe ao altar
Olhos fitos no noivo com quem vai casar.
O fruto maduro,
A árvore em flor,
Um beijo de amor.
As vibrações do ar,
A alegre gargalhada,
Da jovem enamorada.
Sentir o pulsar
No ventre da grávida, que vai a passar...

Lembranças... Olhares...
Que nos fazem pensar,
Que tudo isto é VIDA
E razões para a amar.